domingo, outubro 15, 2006

Do Sagrado ao Profano: A Prostituição como forma de alcançar o divino

A civilização ocidental moderna tem uma relação um tanto quanto deturpada com o sexo. Muito disso se deve às bases cristãs da nossa cultura. Afinal, sexo praticado meramente por prazer é considerado pecado pela Igreja Católica, que o encara como uma tentação da carne, tendo que ser bravamente evitado. Freud, inclusive, fundamenta boa parte das suas teorias na "sublimação do sexo".

Porém, a antigüidade revela práticas surpreendentes nas quais o pornto chave para se aproximar das divindades é justamente o sexo. Mais incrível ainda: sexo com as prostitutas.

Como já tratamos aqui, vender o corpo podia ser considerado algo religioso na Grécia Antiga. O historiador Heródoto, que viveu no ano 300 a.C., nos conta que era costume na Babilônia as mulheres deixarem de ser virgens com estranhos. Para isso, ela era levada ao templo do amor e aguardavam até que um homem oferecesse dinheiro para ter relações com ela. Qualquer quantia era válido - recusar, sim, seria pecado. Heródoto ainda diz que as mais altas e belas podiam retornar mais cedo para casa, pois logo aparecia algum interessado. Já as mais feias podiam ficar até quatro anos na espera.

No Egito Antigo, as deusas da fertilidade, Hátor e Bastet, são quase sempre representadas nuas com um coro de mulheres dançantes. Em noites de festa, as mulheres permaneciam em serviço para os homens, cumprindo com seus preceitos divinos.

Há também relatos da existência da prostituição sagrada em templos de adoração a deusas. Rituais que visavam atingir um nível mais elevado de interação com a divindade envolviam o sexo entre a sacerdotiza e os homens. Não só no Egito, na Grécia também, no templo de
Afrodite. Em rituais desse tipo, acreditava-se que a sacerdotiza encarnava a deusa.

Os Sumérios praticavam rituais semelhantes, como o "casamento sagrado", por volta de 3.000 a.C. Nesse ritual, ocorria a relação sexual entre uma sacertodtiza da deusa Inanna e um sacerdote-príncipe, com o intuito de obter favores da deusa para suas cidades. Na Grécia, isso recebia o nome de "Hiero Gamos", que consiste na tradicional reconstituição do casamento da deusa do amor e da fertilidade com seu amante, o jovem e viril deus da vegetação.

O caminho da mulher à prostituição sagrada também podia acontecer através da sujeição ao conquistador guerreiro. Ramsés III atesta esse fato nos relatos de inscrição de prisioneiros que fez na guerra da Síria. Os homens foram levados para um "depósito", e suas mulheres foram feitas súditas do templo, mas independentemente da forma como se tornavam prostitutas sagradas (por devoção ou por sujeição), elas eram bem numerosas.

Rituais desse tipo são marcas de sociedades matriarcais. Nesse tipo de sociedade, a natureza e a fertilidade são o âmago da existência. Interessante notar que não foram casos isolados: ocorriam nas Índia, na Grécia, no Egito, e até entre o povo Árabe. O Império Romano ainda adotou parte desses costumes por um tempo, mas com a implementação do Cristianismo, muito se perdeu na própria antiguidade.

Alguns resquícios dessas práticas antigas é o Tantra e o Kama Sutra. Ambos tratando o sexo como algo sagrado. Mas essas questões são digans para uma outra postagem.

O fato é que grande parte do que se perdeu com a expansão do Cristianismo não tem fundamento religioso, mas político. A sociedade matriarcal bravamente combatida. A magia e outras religiões praticamente extintas. Práticas primordiais para a vida, como o sexo, sendo depreciada. Incrível haver esse tipo de postura em uma religião iniciada por alguém que pregava o amor entre os homens.